Os maiores danos causados à humanidade e ao meio ambiente são provocados pela ação concertada entre Estados e Mercados, e, notadamente por envolverem instituições detentoras dos poderes político e econômico, permanecem de fora da categoria jurídica de “crime”. Diante dessa constatação, a criminologia vem se desvencilhando dessa categoria para definir seu objeto. Este trabalho se insere nessa tentativa de redefinição epistemológica do campo, versando sobre a maneira como o discurso científico, construído através de financiamentos de pesquisas pela indústria do amianto e de outras substâncias mortais, contribui, conscientemente, para o alastramento dos danos por elas causados, provocando a perda de milhares de vidas. Após categorizar esses danos corporativos como crimes dos poderosos, o trabalho avança com a análise do caso do amianto, e demonstra que, sob o véu da racionalidade e da objetividade científicas reside a adoção de um papel político dos cientistas. Para avançar na reflexão, faz-se uso da categoria “banalidade do mal”, de Hannah Arendt, concluindo-se que, do ponto de vista do dano social, não há diferença entre quem fuzila milhares de pessoas e quem constrói um discurso através do qual, asséptica, mas seguramente levará à morte milhares de pessoas.
Benzer Makaleler | Yazar | # |
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Makale | Yazar | # |
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